"Existem Venenos Tão sutis que, para conhecer-lhes as propriedades, temos que nos expor ás doenças que causam."

Oscar Wild.

18 outubro 2014

Segunda(mente)

Primeiramente houve tu e então não houve mais nada, queimou a pele e a essência em todo esplendor que lhe cabia para então não sobrar resquício do que já havia sido.

Na primeira mente que teve era tudo cinza, um mundo naturalmente apático feito de toda tua desconstrução do nada; Sempre quis ser algo sem saber por onde começar.

Lhe conheço bem demais, decoro teus caminhos e esqueço-os só para perder-me dentro de ti, sou a poesia na tua pele, a chuva que insiste em não cair, sou teus complexos, o cabelo branco que teima em surgir, fui teu tudo e hoje não sou nada, uma construção de tuas idealizações de vida, tão irreal e etérea quanto ti, como uma chama de existência, eu queimo.

Vou destruir toda essa tua contemplação do mundo, criar em ti o que já fui e desaparecer por trás de teus olhos, vou virar pó e levar comigo todo teu nada, queimar assim como tu sem saber fixar os pés nas cinzas, cambaleante vou repetir teus erros que vão assim perpetuar pra sempre dentro de ti.

Primeiramente não foi nada de mais, nunca foi nem nunca fui.

Se descobriu tudo ao se entregar a todo esse nada que tende a existir dentro de mim.

Mas isso é hoje.

Na segunda, segunda mente.

18 setembro 2014

Antes do começo do nosso fim.

Vê se pode justo hoje eu sonhei contigo, chamo de sonho pois nele já não havia mais nós, já tinha tido fim nosso pesadelo e sobrou isso, sobraram nós jogados a esmo naquele sonho onde eu tive medo de te olhar na cara, sobrei eu que sonhei contigo e sobrou tu que no fim acabou sobrando aqui dentro da minha cabeça só pra qualquer hora aparecer quase gritando pra provar que existiu, você não existe mais na minha vida e por mais que eu seja feliz com isso, algumas memórias não gostam de ser esquecidas.

Hoje, por causa do sonho eu lembrei muito de ti, me veio uma memória gostosa, dessas que a gente guarda com carinho e não deixa o mundo ver muito pra não estragar.
Lembra daquela vez, não sei dizer se foi bem no começo, mas deve ter sido, foi na época em que eu ainda era feliz do teu lado, a gente tinha ido cedo pra paulista ver uma peça de teatro, era um dia dos mais normais, eu tinha acordado do teu lado, escovado os dentes, a gente tinha conversado, beijado tivemos todos os 'ados' que sempre tínhamos e que fizeram da gente o casal tão acomod'ado' que nos tornamos. Mas naquele dia andando bem na frente do parque Trianon enquanto a gente conversava você me rodopiou do nada e me beijou no meio de toda aquela gente andando distraída à nossa volta; Não sentia mais os meus pés no chão, em um segundo o meu mundo parou enquanto todos os outros corriam em volta de mim, imagina, eu que nunca soube o que era amar e ser amada de volta naquela hora exata descobri, naqueles segundos em que não existia mais nada além de você e o meu coração que batia feito louco experimentando algo que nunca soube que podia sentir, naqueles segundos eu fui genuinamente feliz e estávamos bem, tão bem quanto nunca mais iriamos ficar.


As vezes eu gosto de relembrar isso, sentir o calor no peito que um dia aquilo me causou. No fim somos só isso, memórias, vivemos de memórias e juntando memórias, somos uma caixa de histórias que tentamos compartilhar, contamos nossas histórias para que elas não morram conosco, no fim algumas memórias são boas demais pra serem esquecidas, nem todas merecem o mesmo fim que nós.

Nunca tive problemas em lembrar disso, mesmo depois do fim ela ainda é uma história tão bonita pra mim, pena que depois sempre sobra aquele gosto amargo que nós deixamos.
Dói lembrar quantas vezes mais você tentou fazer isso, dói lembrar quando perto do fim você me rodou exatamente no mesmo lugar e tudo que eu podia pensar era como aquilo parecia errado, como não passava de uma encenação de uma felicidade que nós nunca mais iriamos ter, dói lembrar o quanto nós estragamos essa nossa primeira vez tentando recriar nossa melhor história, reviver aquela memória só deixou ela tão desgatada quanto nós, meu coração nunca bateu da mesma forma e aposto que o seu também não.
Nunca mais vivemos aquele domingo por mais que tivéssemos tentado, é estranho pensar a quanto tempo já sabíamos que não ia dar certo, dias, semanas, meses, dói demais dizer que já fazia mais de um ano? Acho que sim


Sinto falta daquele domingo e de tudo que ele causou em mim, essa memória tua me da uma saudade danada, mas pena que não é de ti. Tenho saudade de mim, saudade de ter a casa e o coração cheio, saudade de sentir o mundo parando, e me desculpa dizer isso desse jeito mas a culpa é tua, não sinto tua falta mas você depois que saiu me deixou com saudades de ser alguém que eu só soube ser contigo, a casa já ficou vazia por muito tempo e eu ando me acostumando com isso, só as vezes que me da essa saudade que arde o peito, essa vontade de deixar o amargo pra trás e criar novas memórias.

Preciso de novas histórias pra alimentar esses dedos cansados de reescreverem a mesma vida.


15 agosto 2014

Letra 0.

Cansei de ser singular, tenho em mim tantos plurais que me reconhecer singular é ofensa.

Cansei de ser passado, na primeira, segunda ou terceira pessoa já cansei de viver de memórias e me alimentar só de algumas histórias desgastadas pelo tempo e pelo que o amor e o que a falta dele faz conosco. Quero ser verbo, mover tua vida e criar teus sonhos, quero amar, correr, sonhar, poder, ser, estar e parecer; Posso ser advérbio, teu adjetivo, não sei mais viver somente como substantivo, quero ser pronome! Pronome tu, pronome eu, pronome nós, e no fim quem tem teu nome? Vem brincar de adjunto e me deixa ser artigo, quero ser a tal da tua vida, me coloca no meio dela e me deixa escrever tuas frases contigo. Posso ser teu prefixo e te fazer sufixo, te completar, te tirar o sentido, posso te mudar sem tirar nada do que já era.

Me deixa ser sujeito e me sujeitar as tuas loucuras, me transforma em mim e me conjuga teus verbos, esquece as outras gramáticas e me escreve com o coração.
Vem ser vírgula e ritmar com teu canto essa história, vem ser aspas e guardar em ti minhas palavras, vem ser tudo sem nunca querer ser ponto final.

Me faz licença poética e me escreve o corpo, em minha pele deixa brotar teus versos, me rima a alma enquanto me desenrola de teus dedos.

Vem ser acento e crase, me da ênfase e me muda a forma, me faz história e me constrói com teus parágrafos, me faz verso e me deixa ser tuas palavras, daqui até o fim de nosso texto, seja letra que esta é minha letra zero.

13 agosto 2014

The last Warmth

Me diz agora o que o faço.


Chega mais perto e me conta como você conseguiu, em quais fios mexeu por aqui, qual interruptor você ligou pra fazer isso comigo; Vem cá e me explica como conseguiu espiar dentro desse emaranhado de carne e ossos assim tão facilmente; Me conta como andou por mim se desvincilhando tão naturalmente de minhas amarguras, vai menino desembucha tudo, me conta teus segredos, que magias usou comigo, fala como se fosse da boca pra fora quais talentos você tem que me fizeram assim, boba por algo que nunca pude segurar.

Deita aqui e me rouba o tempo falando sobre como é tua pele, sussurra na minha que anseia tanto por conhecer-te, tem noites menino que ouço minhas mãos gritando pelas tuas, e sabe... juro que de vez em quando me pego deitada entre os lençóis pensando em ti (pobres coitados, já presenciaram tantos desamores que já nem se iludem mais) e assim na mais pura inércia da existência minha pele se nega a aceitar o vazio que existe sem começo nem fim, mil vezes mais ela prefere fantasiar com tua pele ao redor, meu corpo já instintivamente imagina o teu junto a mim, os lábios que nunca vi acariciando os meus, te imagino por inteiro menino sem saber bem o que imaginar.

Me olha nos olhos e me diz com eles o que eu faço, não sei como correr, nem pra longe nem pra mais perto de ti.

Olha o que tu fez menino, achou um brinquedo torto e brincou sem imaginar que ele acordaria.


With a warm inside, I walk into the dark.

24 julho 2014

Vesânia.

Caminhava feito um fantasma na própria casa, passava por portas, cadeiras e demônios que nunca havia encontrado lá antes (não é normal mas a gente continua) sentiu o piso frio da cozinha castigando seus pés descalços abriu uma garrafa do vinho mais barato e voltou ao seu refúgio agora violado pela presença de si mesma, as cobertas sempre lhe protegeram do mundo mas nunca de si própria.

O liquido doce lhe descia pela goela (me lembro bem, um corpo em pleno retrocesso) um cigarro pendia ao fim do Caos (e a agonia de ficar sempre assim) nunca soube o que lhe faltava então procurou o pedaço em outros corpos, deitou em tantos lençóis, acariciou tantas peles, beijou tantas bocas, tudo pra saciar um vazio que não era de todo seu ( jurou ter cura o desencanto) nunca lhe passou procurar os pedaços em si mesma, ir nos cantos proibidos, abrir as portas enferrujadas, se descobrir antes de descobrir o corpo nu deitado ao lado de outro (me leva pra qualquer lugar).


Não queria ser só mais um corpo, tinha sede de vinho e de vida, tinha fome de novas histórias, novos amores, como uma viciada sem nunca ter amado se entregava a qualquer gentileza (pois mesmo sóbrio, me entrego fácil) nunca se achou digna de todo amor que procurava, tinha medo de assumir seus demônios mas amava-os com uma dedicação de mãe, escondia-os do mundo e lhes dava uma vida que um dia já foi sua (nossos filhos, nossa casa, nossos caminhos).

Quis levantar mas se lembrou que não tinha pra onde ir, permaneceu na mais pura inércia, a mente correndo entre as palavras que nunca disse pregando peças com um passado que nunca aconteceu (mas custa pra admitir), olhou o céu cinzento e respirou a fumaça do próprio desespero, sempre foi assim, não sabia funcionar de outro modo, viu que o rosto no espelho já não era mais o seu, o sorriso refletido parecia cansado de ser falso (sei que de um pouco de amparo eu me refaço), saiu da própria existência pra experimentar outros ares, foi procurar nas ruas o que nunca teve coragem de ver em si mesma, procurou e procurou mas ainda não achou o que procurava.


Não sabia abrir as portas que lhe privavam de quem queria ser, então foi atrás das chaves.

22 junho 2014

Self/Other

Sabe, teus demônios também são meus, reconheci teus medos mesmo antes de te conhecer, sei exatamente onde dói e isso da medo; Sabe, você é tão estragado quando eu.

Em tão pouca vida acumulei os mesmos, ou até mais, medos que você. Sou assim medrosa mas sem medir meus passos no mundo, apavorada e sem nunca ter tido medo do escuro, olha pra cá e você vai ver que todos teus temores andam aqui dentro de mim, que em certo ponto sou assim, tão parecida contigo... também morro de medo de viver.

Não guardo os clichês de sempre no peito, não couberam na verdade, é tanto medo da vida que esqueci de guardar espaço pra ter medo da morte; Sabe, você nem existe ainda direito mas já me deu medo, me reconhecer assim tão dentro dos teus olhos assusta e por pouco que não corri pra longe.
As vezes é mais fácil correr dos nossos medos não é? Mas chega uma hora que cansa, me diz, você já cansou de correr? Porque eu acho que não.

Já tentei fugir da vida e das pessoas que ela insiste em jogar a esmo nas mesmas garras em que me segura, mas as vezes chega um ponto em que não da mais pra se esconder, ela já reconhece as minhas máscaras tão facilmente quanto eu descobri as tuas, é fácil identificar quando são máscaras que escondem o mesmo medo, o mesmo pavor de ficar vulnerável a tudo que pode no fim machucar mais a alma do que o corpo em si.

Não sei mais se quero correr da vida mas sei que não quero lidar com tudo que ela causa em mim, quem sabe no dia que você resolver parar de correr as nossas máscaras não caiam e ai... ai quem sabe se nosso medo não se torna coragem pra enfrentar aquilo que nos causa tanto medo.


Nós mesmos.

27 maio 2014

Quintanando.

Queria ser assim como você, ter essa solidão natural que só você soube ter, esse acanhamento de não saber fingir direito e sussurrar meio embaraçado algumas mentiras no meu ouvido, quis as vezes ter você mais perto, te manter do lado de dentro pra te proteger do mundo, fui uma jaula de carne tentando segurar o ar e minhas grades só me mostravam o quanto era vazio aqui dentro.

Apesar de tudo não acho que tenha feito muita diferença, passei por ti como passo por todos os lugares. Sou dessas que costumam deixar alguns pedaços espalhados, por ai não sei, talvez tenha ficado um pedaço de coração, mas pode ter sido um pouco de pulmão jogado entre as cinzas do teu cinzeiro ou  até mesmo algum fragmento de olhar perdido no espelho pelo banheiro.

Queria ter esse teu ar distante, esse teu andar distraído pela vida tropeçando no mundo sem saber bem pra onde ir, queria ter tido um motivo pra ir embora, acho que no fim foi amor, mas não amor teu ou meu, acho que no fim foi amor próprio.
 Você não deve nem imaginar mas as vezes eu pensava como queria ter ficado, algumas vezes eu considerei pedir pra você ficar.

Mas isso não se faz não é mesmo?

Não se pede coisa dessas, ou se fica ou não, teu ficar dependia só de ti e você não quis muito ficar por aqui, levou teus ares pra longe e foi pra melhor; Você passou como um tufão aqui por dentro e tirou tanta coisa do lugar que não me dei o trabalho de arrumar, gostei do que ficou e quem sabe o próximo a entrar não agradeça essa bagunça toda, é bem mais humana comparada à monotonia que você havia encontrado no lugar.

Queria ser mais como você mas agradeço por ter me tornado mais parecida comigo mesma, pode passar, entra aqui  porque no fim tudo passa, eles passarão e eu passarinho.

01 maio 2014

Ato II - Nunca fui Primavera.


Floresço no inverno.

Ganho mais vida quando o vento encontra seu caminho por entre os fios do meu cabelo, não fui feita para temperaturas amenas, nasci para os andares austeros e os rostos mau humorados e é tão comum me sentir em casa em meio a toda essa cacofonia de sons,  sou só mais uma coisa que chega junto com as folhas que o outono derrubou; Vez por outra me pego dançando aos acordes agudos do vento, me vejo cantando junto a teus gritos, sendo uma sem ser nada; Floresço no inverno e deixo o inverno florescer pra fora de mim, deixo todo esse frio que guardo no peito sair e ir assombrar outras vidas, deixo meus ventos se enrolarem nas mãos solitárias que balançam a esmo procurando sempre outras mãos, vacilantes em procura de contato, de uma direção; Sempre achei lindo o contato que o frio traz consigo, o calor de juntar pele com pele, de abrir o peito e deixar outra pessoa entrar, tudo tão sutil, tão vago, que só pode ser observado a curto alcance; Isso é a melhor coisa do frio.


Não sou inimiga do frio, muito pelo contrário, espero por ele todos os anos, mas me diz, quando foi que teu frio chegou assim tão sem aviso? Me faz entender como ele apareceu tão rápido, foi o vento que trouxe ele pra você? Não faz sentido mentir, minhas palavras entregam tudo que eu tento esconder, teu frio chegou bem quando o meu tinha resolvido ir embora, resolvi seguir os conselhos de "Deixa acontecer" e deixei, libertei do peito o medo e vi ele de mãos dadas com meu frio andando sem saber pra onde ir depois de tanto tempo aqui dentro, pobres coitados, não sabiam mais enxergar o mundo sem ser por meus olhos.

E foi assim que fui de peito aberto procurar um pouco de calor pra preencher o espaço que ficou e que surpresa a minha quando dei de cara com teu frio, primeiro tentei alcançar um pouco de calor, mas acho que foi em vão; Depois da negação veio a indignação, não soube como lidar com o sentimento de não ter rumo, não ter nem meu frio nem teu calor pra me guiar, confesso que é bobo, mas tua pele me fazia muito bem, o calor das tuas mãos, teu contato, algumas vezes conseguia encontrar conforto até mesmo nos teus olhares, mas não adianta não é mesmo? Ficou tudo gelado agora; Ainda não consegui a aceitação, é tão difícil pensar em procurar meu frio de novo, acho que só vou esperar que os mesmos ventos que trouxeram o seu tragam o meu de volta para casa.


Queria não dar sentido à todas essas palavras, acordar com teu calor de novo pra ver que foi só uma frente fria, queria saber o porque; Não acho mais que você vá ler as coisas que escrevo, não faz parte do teu frio, na verdade mal faz parte do meu, vou ter que alfabetizar o meu novamente, ensinar que ele pode e deve, de vez em quando brincar com as palavras que me vem a mente; Tenho que reaprender a viver no meu inverno, não deve ser difícil depois de passar pelo teu, e que ironia essa, afinal de contas você descobriu o que é a Teoria do Congelador: gelo gera mais gelo.

Vou reaprender a ser vento e dançar por entre os lamentos do mundo, o vazio ainda está aqui sabia? Mas logo logo volta meu frio, logo logo eu reaprendo pra que fui feita.

Reaprendo a florescer no inverno.

25 abril 2014

Ato I

O telefone toca de novo sem que eu me dê o trabalho de atender, poderia até dizer algo para quem quer que esteja do outro lado, mas não significaria nada.

Nunca fui boa em sentir as coisas, mas talvez você já saiba disso. Não sei controlar empatia, medir dor, pensei que já tivesse amado mas há quem diga que não. Mas se tem algo que sei fazer, essa coisa é querer, quero as coisas com todas minhas forças, seja o que for, até mesmo não querer nada. Sempre quis ter alguém, quis meu lugar, minhas coisas, sempre quis ser alguém, sou ótima em querer e esqueci que me falta aprender a lidar com a negação, nunca sequer aprendi a lidar com a conquista.
Aprendi a te querer mas sem saber se vou ser capaz de te sentir, se chegar mais perto vai ver que sou uma bagunça. Risco e rabisco os contornos de mim mesma todas as manhãs antes de sair de casa, troco a roupa de baixo e o humor durante a tarde, deixo minhas defesas caírem junto com a água morna logo quando anoitece, sou meu próprio mundo, sou Caos.

Quero te ver sorrir com os olhos, queria saber o que você vê dentro dos meus; Me diz, em quanto tempo nosso tempo vai passar a ser tempo demais? A música que toca de fundo não abafa os pensamentos que correm desordenados aqui dentro, esse texto precisaria de um cigarro mas sei que ainda não tenho meu lugar, vou ter que esperar e dar vasão às palavras me parecem mais urgentes do que o vício que carrego com tanto carinho. E falando em carinho você sabe o quanto gosto de entrelinhas não é mesmo? O que consegue ler entre estas? Me escreve um texto para completar esse, tem tanta coisa aqui dentro que só você pode dizer, queria saber quantas vezes viu meus contornos, meus limites, se já achou algum pedaço de minhas defesas preso entre as grades do seu ralo.

Vou tropeçando pelas palavras querendo aprender a sentir, te atuando dentro do meu palco e vendo tuas reações fictícias, já mandei meu coração ao inferno procurando as respostas das perguntas que nunca vou saber fazer, já tentei preencher esse vazio que alimentei dentro de mim, e sabe, não sei se essa vontade repentina de sentir não é só mais um artifício para tentar remendar essa falta de vontade de viver que tenho de vez em quando, talvez seja cansaço de tentar sobreviver aos dias, talvez seja só falta de vida e de tudo que eu sei sentir falta.

Não quero te tornar algo que sirva só pra fazer falta, não quero te sentir para viver nem viver para te sentir, quero meu equilíbrio, ordenar todo o bem que eu sei que há em mim, aprender a medir meus sentimentos, minhas avalanches, quero me sentir viva e te sentir vivendo também, não fui feita para sobreviver à vida.

Da próxima vez que o telefone tocar eu vou dizer: "eu estou aqui para você usar, mas dessa vez, tenho algo a perder."

04 abril 2014

Delírio.

Ledo engano este meu de querer o que nunca me pertenceu.
Se por graça ou poesia te beijo os lábios, feche os olhos e beije os meus; Então venha, traga tuas armas e me renda ao acaso de te querer, me faz de bobo cá e lá, me beija a nuca, me faz falar; De tudo que guardo nos olhos, do meu pesar, todo este, todo teu, amar.


Ledo engano este teu em pensar saber do meu querer.
Se por medo ou cansaço me desatar a correr, feche os olhos e ouça os meus; Então fica, guarda teus versos e me deixa ir, me faz voar; Pra longe de todo teu saber, esse teu falso querer, a indecisão de poder, um dia quem sabe, se render a amar.

17 março 2014

Vem que te faço poesia.

Sabe menino, eu tenho essa mania de carinho, esse quê de dar conforto e sentir o sangue aquietando embaixo da tua pele pela ponta dos meus dedos, tenho isso de querer deitar no teu colo e passar meu corpo em volta do teu só pra sentir teu cheiro, tua textura, sabe menino, as vezes me da uma vontade louca de entrelaçar minhas pernas às tuas, sentir tuas mãos passando pelas minhas costas, teus lábios pousados no topo da minha cabeça enquanto eu tento dormir encaixada no vão do teu pescoço, ter teu corpo assim tão perto do meu menino é tão bonito que parece até poesia.

E como adoro fazer-lhe poesia, faço com o corpo, minhas rimas com a boca encostada na tua, declamo sonetos aos teus ouvidos e dispo-lhe de toda métrica, sou um erro gramatical ressoando em teus ouvidos, uma virgula fora de lugar, mundanamente imperfeita porém com alma de poeta.

Sabe menino, não quero lhe assustar, nenhuma destas palavras é mais forte do que o meu olhar, são partes de mim que aos poucos você vai decifrando, juntando os pedaços que ficaram rasgados por ai, desculpe talvez por escrevê-las, mas sabe o que é menino? Elas são mais fortes do que eu.

Redescobri a força das minhas palavras a tão pouco tempo que a maioria ainda chega enferrujada ao papel, redescobri essa minha mania de carinho a tão menos que não sei ainda como é meu modus operandi, vai ter que aprender a mexer neste teu brinquedo quebrado. Mas sabe o que é? Nem todos meus carinhos vem do toque, alguns chegam em palavras assim como este, que no fim é só mais um carinho pra ti enquanto não posso te trazer no colo pra deixar do lado de fora da porta todos os problemas que lhe montam o pescoço diariamente. Então deita aqui menino, me aconchega nos teus braços e me beija a pele, me deixa ser, fazer e me (re)descobrir carinho.

12 março 2014

Precipi(cio)tado.

E então começa de novo, são novos ares, novas pessoas, mais um começo, nem sei dizer quantos começos já tive sem conseguir começar absolutamente nada e que estranheza é essa que vem quando as palavras resolvem não sair, quando resolvem não começar. As vezes acho fazem isso por bem pois não é bom escrever sobre começos assim logo quando eles surgem, não é bom materializar um começo que nem começou direito.
Definitivamente minhas palavras são mais sensatas do que eu jamais seria capaz de ser, e é por isso que escrevo, enfio o dedo na garganta pra jogar pra fora todas minhas insensatezes contra a vontade de minhas palavras de uma maneira tão inexperiente que ainda não aprendi não ser dona das palavras, ainda não aprendi que elas que na verdade são donas de mim.

Todas as histórias que começam forçadas terminam mal, saem desajeitadas, espalhadas num emaranhado de ideias não construídas, são formadas por palavras que saem à minha imagem, desorganizadas e abafadas escondendo tudo que deveriam de dizer, talvez esse devesse ser um dos tantos textos sobre o amor que já passaram pela ponta de meus dedos e não fluíram, talvez ele seja.

Não aprendi a me render ás palavras do mesmo jeito que não sei distinguir as coisas que sinto, não sei dizer até que ponto tais coisas não vêm disfarçadas de algo maior algo que eventualmente foge apressado deixando um mundo não terminado para trás, não sei até que ponto começos não surgem por carência, e Deus, são tantos começos que não sei nem por onde começar a contá-los; Comecei, por exemplo, tantas vezes esse texto que até agora não fui capaz de começar o que realmente vim dizer, não consegui exprimir a ideia que me trouxe até aqui, todo sentimento que ficou perdido em meio de minhas inseguranças lá onde ficam todas as coisas que minhas palavras teimam em esconder de mim.
Não fui capaz de dizer se vivo num limbo sem saber distinguir o ponto exato onde certas coisas podem mudar ou não, são correspondidas ou não, até que ponto o esboço de algo tão bonito é sequer real, até onde inventamos ou encenamos teatros inteiros sem platéia nenhuma a não ser nós mesmos, onde fica a fronteira da teimosia onde nos enganamos dizendo conhecer tudo que somos, o que pensamos; Somos seres construídos de sabotagens que aplicamos em nós mesmos, construídos de tantas certezas sem ter certeza alguma, planos sem válvula de escape, plantas sem saídas de emergência, tão iludíveis que iludimos a nós mesmos em troca de algo que traga conforto, mesmo que distante, mesmo que seja um conforto trapaceiro; E é nesse conforto que eu termino este texto sem sequer começá-lo.

10 março 2014

Entre(as)linhas.

Nós sempre nos deixamos enganar, vezes por achar a vida difícil, vezes por acha-lá fácil demais. Há quem diga que somos tão frágeis... e que pensamento este, a fragilidade humana é algo encantador e enganador, vezes mais do que a própria vida. Somos frágeis, de uma fragilidade poética, somos livros em uma estante aguardando mãos hábeis que nos escolham, somos páginas feitas de entrelinhas, lombadas calejadas de repetir a mesma história inúmeras vezes esperando alguém que enxergue no fundo do que somos feitos, que enxergue nossos silêncios, que entenda que as vezes o mais importante não é dito, que conheça e reconheça nossos teatros, alguém que nos veja como somos, que busque dentro de nós as coisas que escolhemos esconder entre todas as esquinas de nossa alma, que nos leia como somos, que nos veja entrelinhas.

E são tantas entrelinhas, tantos traços fantasmas escritos em nossa epopeia que vez por outra o ser humano se vê como necessário como se seus ossos e seus pensamentos fossem essenciais para que todo o resto se mantenha evidente, como se todas as palavras que os constituí, que nos constituí, formassem o equilíbrio perfeito de toda (in)sanidade cósmica fazendo assim vez por outra o homem esquecer de sua fragilidade e nessas horas, ah, nessas horas cada linha de sua história se torna risível, são histórias escritas em negrito pra comprovar uma força inexistente, uma urgência de existência vã, são contos narrados com vozes prepotentes, com rugidos de leão, seres que querem se provar acima de qualquer outro e que eventualmente se cansam de sua própria natureza escolhendo brincar de Deus, e são tantos são estes que surgem cada dia mais novos Deuses, novas farsas que insistem em se sentirem mais poderosos do que os outros, são Deuses materiais, Deuses físicos, tecnológicos, Deuses todos estes surgidos de uma crise de existencialismo puro, de uma crise de fragilidade humana, Deuses falsos feitos de falsos homens.

Há de chegar o dia em que a fragilidade seja bem vinda, o dia onde vejamos que cada momento em que vivemos é tão, ou mais, frágil do que nós mesmos, vivemos em um amontoado de exoesqueletos frágeis, destrutíveis ao toque de um dedo, temos histórias, criamos sensações, memórias tão frágeis, tão solúveis no tempo, essenciais porém vulneráveis à vida, que apesar de tão frágil, aniquila tudo ao seu redor com um bater de assas, que nos aniquila em toda nossa fragilidade, aniquila os Deuses, as poesias, contos e crônicas dos quais somos feitos, fragilidade que aniquila a si mesma pra criar assim o engano de que tudo é fácil ou difícil demais, engano nosso, engano por não percebemos que tudo é frágil, assim como nós, assim como sempre foi e sempre há de ser, uma fragilidade que constrói histórias só para então destruí-las, um soneto criado pela fragilidade humana para que aprendamos a viver assim como somos; Histórias frágeis escritas em papel fino e tinta clara, um amontoado de páginas perdidas e vez por outra encaixadas entre as páginas de outros livros, assim nos tornando extremamente vulneráveis, porém eternos.

04 fevereiro 2014

Indomável.

Mas o coração é uma coisa estranha, não segue nenhuma lei, nem mesmo a da gravidade. Não tem regra nem princípio, não segue uma rotina nem tem o que explique. Onde já se viu coração ser desordeiro assim,  ser leve quando cheio e pesado quando vazio,  ter uma independência própria, uma existência que não depende de ninguém, nem mesmo de seu dono? Como pode alguma coisa ser tão irreverente e mudar tanto nossa vida, algo que tenha essa capacidade de deixar a gente, que é tão completo e tão cheio de si, faltando um pedaço? Como pode tirar e colocar as coisas no lugar sem nem perguntar, chamar visita sem nos avisar, brigar com os vizinhos e mandar tudo embora de uma hora pra outra, onde já se viu coisa dessas? Onde já se viu algo que mude tanto de opinião sem nem se dar o trabalho de pensar, que chora e faz chorar e que logo depois sorri com o brilho das lágrimas ainda nos olhos? Onde já se viu algo ser tão forte e tão frágil ao mesmo tempo, algo capaz de criar guerras e criar amores, curar doenças e inventar dores; onde já se viu, coração? Único e com um medo mortal de ser sozinho, uma necessidade transcendental de companhia, de ter a casa cheia, o lugar ao lado do sofá ocupado, o espaço que ele mesmo faz faltar, cheio, que imagina vidas inteiras com completos desconhecidos e que joga fora algumas vidas por falta de ... de que mesmo? Ah sim, por falta de amor, por falta de coração, pois vejam bem, o coração é tão mesquinho que tira da nossa vida tudo onde ele não é mais necessário. E que mesquinhez sensata! Afinal de contas o que é a vida sem coração? O que é a vida sem amor? Os amores longos e os curtos, os quentes e os que não esquentam tanto assim, amores passivos, platônicos, pacíficos, amores feitos de pé de guerra, amores feitos de beijos, abraços, amores feitos de gentileza, amores inevitáveis, amores impossíveis – o que seria a vida sem todos os amores que vivemos e sem esse coração que a cada dia encontra algo novo pra amar? E olha, às vezes a culpa nem é toda do coração. Talvez ele seja tão vítima quanto, cego, enganado e feito de palhaço, completamente bobo por aquilo que acredita, aquilo que lhe faz funcionar. Vai que a culpa nem é do coração, mas sim do que ele é feito. Vai que a culpa é todo daquele lá...aquele mesmo, aquele tal de amor.

05 janeiro 2014

Vem ser Começo. Vem ser Fim.

Três.


Dois.


Um.


Fim.


Fim, foi Fim mas foi começo, mas enfim fim, vários fins dentro de um só Fim, vários começos por um único fim, enfim...foi Fim pra você também?

Pra mim um Fim nunca foi tão começo, mas não quero que esse começo seja fim, já vivi tantos fins sem começos, fins que só adiavam o fim em si, já passei fins que começavam lágrimas inexplicáveis, comecei fins que findaram tudo que eu conhecia de mim mesma e que fim diferente que eu tive agora.

Comecei meu Fim olhando nos teus olhos, findei meu começo com o lábio nos teus, quantos fins tivemos dentro desse começo? Quantos começos adiados antes do fim, tudo tem fim, tudo tem que começar para isso, e me explica quantos fins tivemos que ter pra existir esse começo? Me diz ao pé do ouvido que o fim não importa, que poderão ter vários fins, me embala num abraço sem fim, me mostra que o fim não importa a não ser quando ele traz novos começos, me convence a ficar até o fim pra assim poder começar de novo, vem comigo e segura minha mão que eu tenho medo, sempre tive medo de fins talvez tanto quanto eu tenho de começos, vem, faz eu me sentir como se fosse começo todo dia, me faz ter medo até ele ter fim, me mostra que um começo pode ter fim sem nunca acabar.

Vem enfim começar meu Fim.

Vem dar começo que o começo desse Fim começa agora.

Vem começar sem pensar no fim.

Vem findar meus começos com teu Fim.

O começo do nosso fim só ta começando, um começo que pode dar fim a todos os fins, então vem, vem ser começo sem nem pensar em ser três, dois, um. Fim.

04 janeiro 2014

Welcome.

Desculpe, estamos fechados.

Sabe não é nada pessoal, foi uma surpresa pra mim também mas não tão grande quanto deve ter sido pra você, sabe meu querido só não deu mais pra ser, a porta ficou sempre aberta e eu tinha colocado um capacho tão bonito pra te receber, eu esperava você e ... me conta a verdade, você não queria muito entrar não é mesmo? Mas você acabou entrando e eu fiquei tão feliz que não liguei pra lama no capacho, não liguei pros sapatos em cima da mesa de centro, não ligava pra tevê no volume alto só pra esconder minha voz, eu só era feliz por te ter ali, logo ali, te tendo como meu sem nunca querer ser sua dona de verdade, de nada meu querido.

Mas sabe meu querido, eu nunca soube esconder minha surpresa nem minha decepção, e essa foi realmente uma surpresa, um dia a porta passou a parecer mais uma boca por onde você passava pra bagunçar tudo que eu havia arrumado, o barulho já não escondia mais a voz que crescia aos pouquinhos dentro da minha cabeça e que surpresa quando ela me dizia que eu já não queria mais você lá, eu disse meu querido, não sou boa em esconder as coisas e sei que deixei transparecer que de todas as coisas que queria ali dentro a ultima delas era você. Aos poucos os sapatos não deixavam mais marcas de lama, a tevê não gritava mais, aos poucos minha quietude foi voltando mesmo contigo ali e me conta... quando foi que você percebeu? Eu não consigo deixar de perguntar o quanto você tentou mudar pra se manter ali, quantas manhãs você não acordou com a luz do sol no rosto perguntando se quando voltasse a porta ainda estaria aberta, você realmente achou que ela ficaria ali pra sempre? Eu não posso dizer que fui eu porque sabe meu querido, não fui só eu, foi teu barulho, teus modos, foi você e o bem que a sua ausência as vezes me fazia, sabe... foi a falta da saudade, da ansiedade de ver você entrando, foi a falta de amor, eu não te amava mais, eu não queria mais ter teu barulho nem teu silêncio, desculpe meu querido.

E eu mudei tanto não é mesmo? Não era mais sua criança, deixei de ser sua menina, passei a ser mais mulher, foi difícil perceber que eu não concordava mais contigo? Foi assim tão ruim me ver sendo tão indiferente à tua dor? Foi estranho ver que ao teu lado no sofá haviam outras pessoas? Como foi chegar um dia e ver que tua poltrona favorita não estava mais lá? Minha vida nunca foi só minha e eu sempre gostei tanto disso, eu era um café onde as pessoas sentavam pra conversar, sempre fui um porto seguro pra quem eu deixava entrar, o ultimo lugar aberto às 4 da manhã, eu esvaziei tanto quando você chegou e te acostumei tão mal com isso que chegar um dia e ver tanta gente no mesmo lugar deve ter te assustado, me desculpe meu querido.

Hoje em dia o capacho bonito continua lá e as pessoas também, hoje em dia eu vivo sempre cheia de um silêncio barulhento que me faz tão bem meu querido, da pra ouvir o blues que sai de mim de lá da esquina não é mesmo? Acho que voltei a ser mais menina, voltei a ter uma meninisse de mulher e sabe meu querido... quer dizer... desculpe acho que não posso mais te chamar de meu querido, sabe... eu vi que o medo de não ter conforto com a tua ausência era tão bobo. Não sei até onde eu imagino a tua cara encostada na janela olhando aqui pra dentro de vez em quando mas dessa vez o capacho não é mais pra você, o lugar que era teu ainda ta ali mas não mais pra você ocupar.

Desculpe, estamos fechados pra você.