"Existem Venenos Tão sutis que, para conhecer-lhes as propriedades, temos que nos expor ás doenças que causam."

Oscar Wild.

04 fevereiro 2014

Indomável.

Mas o coração é uma coisa estranha, não segue nenhuma lei, nem mesmo a da gravidade. Não tem regra nem princípio, não segue uma rotina nem tem o que explique. Onde já se viu coração ser desordeiro assim,  ser leve quando cheio e pesado quando vazio,  ter uma independência própria, uma existência que não depende de ninguém, nem mesmo de seu dono? Como pode alguma coisa ser tão irreverente e mudar tanto nossa vida, algo que tenha essa capacidade de deixar a gente, que é tão completo e tão cheio de si, faltando um pedaço? Como pode tirar e colocar as coisas no lugar sem nem perguntar, chamar visita sem nos avisar, brigar com os vizinhos e mandar tudo embora de uma hora pra outra, onde já se viu coisa dessas? Onde já se viu algo que mude tanto de opinião sem nem se dar o trabalho de pensar, que chora e faz chorar e que logo depois sorri com o brilho das lágrimas ainda nos olhos? Onde já se viu algo ser tão forte e tão frágil ao mesmo tempo, algo capaz de criar guerras e criar amores, curar doenças e inventar dores; onde já se viu, coração? Único e com um medo mortal de ser sozinho, uma necessidade transcendental de companhia, de ter a casa cheia, o lugar ao lado do sofá ocupado, o espaço que ele mesmo faz faltar, cheio, que imagina vidas inteiras com completos desconhecidos e que joga fora algumas vidas por falta de ... de que mesmo? Ah sim, por falta de amor, por falta de coração, pois vejam bem, o coração é tão mesquinho que tira da nossa vida tudo onde ele não é mais necessário. E que mesquinhez sensata! Afinal de contas o que é a vida sem coração? O que é a vida sem amor? Os amores longos e os curtos, os quentes e os que não esquentam tanto assim, amores passivos, platônicos, pacíficos, amores feitos de pé de guerra, amores feitos de beijos, abraços, amores feitos de gentileza, amores inevitáveis, amores impossíveis – o que seria a vida sem todos os amores que vivemos e sem esse coração que a cada dia encontra algo novo pra amar? E olha, às vezes a culpa nem é toda do coração. Talvez ele seja tão vítima quanto, cego, enganado e feito de palhaço, completamente bobo por aquilo que acredita, aquilo que lhe faz funcionar. Vai que a culpa nem é do coração, mas sim do que ele é feito. Vai que a culpa é todo daquele lá...aquele mesmo, aquele tal de amor.