"Existem Venenos Tão sutis que, para conhecer-lhes as propriedades, temos que nos expor ás doenças que causam."

Oscar Wild.

10 março 2014

Entre(as)linhas.

Nós sempre nos deixamos enganar, vezes por achar a vida difícil, vezes por acha-lá fácil demais. Há quem diga que somos tão frágeis... e que pensamento este, a fragilidade humana é algo encantador e enganador, vezes mais do que a própria vida. Somos frágeis, de uma fragilidade poética, somos livros em uma estante aguardando mãos hábeis que nos escolham, somos páginas feitas de entrelinhas, lombadas calejadas de repetir a mesma história inúmeras vezes esperando alguém que enxergue no fundo do que somos feitos, que enxergue nossos silêncios, que entenda que as vezes o mais importante não é dito, que conheça e reconheça nossos teatros, alguém que nos veja como somos, que busque dentro de nós as coisas que escolhemos esconder entre todas as esquinas de nossa alma, que nos leia como somos, que nos veja entrelinhas.

E são tantas entrelinhas, tantos traços fantasmas escritos em nossa epopeia que vez por outra o ser humano se vê como necessário como se seus ossos e seus pensamentos fossem essenciais para que todo o resto se mantenha evidente, como se todas as palavras que os constituí, que nos constituí, formassem o equilíbrio perfeito de toda (in)sanidade cósmica fazendo assim vez por outra o homem esquecer de sua fragilidade e nessas horas, ah, nessas horas cada linha de sua história se torna risível, são histórias escritas em negrito pra comprovar uma força inexistente, uma urgência de existência vã, são contos narrados com vozes prepotentes, com rugidos de leão, seres que querem se provar acima de qualquer outro e que eventualmente se cansam de sua própria natureza escolhendo brincar de Deus, e são tantos são estes que surgem cada dia mais novos Deuses, novas farsas que insistem em se sentirem mais poderosos do que os outros, são Deuses materiais, Deuses físicos, tecnológicos, Deuses todos estes surgidos de uma crise de existencialismo puro, de uma crise de fragilidade humana, Deuses falsos feitos de falsos homens.

Há de chegar o dia em que a fragilidade seja bem vinda, o dia onde vejamos que cada momento em que vivemos é tão, ou mais, frágil do que nós mesmos, vivemos em um amontoado de exoesqueletos frágeis, destrutíveis ao toque de um dedo, temos histórias, criamos sensações, memórias tão frágeis, tão solúveis no tempo, essenciais porém vulneráveis à vida, que apesar de tão frágil, aniquila tudo ao seu redor com um bater de assas, que nos aniquila em toda nossa fragilidade, aniquila os Deuses, as poesias, contos e crônicas dos quais somos feitos, fragilidade que aniquila a si mesma pra criar assim o engano de que tudo é fácil ou difícil demais, engano nosso, engano por não percebemos que tudo é frágil, assim como nós, assim como sempre foi e sempre há de ser, uma fragilidade que constrói histórias só para então destruí-las, um soneto criado pela fragilidade humana para que aprendamos a viver assim como somos; Histórias frágeis escritas em papel fino e tinta clara, um amontoado de páginas perdidas e vez por outra encaixadas entre as páginas de outros livros, assim nos tornando extremamente vulneráveis, porém eternos.