"Existem Venenos Tão sutis que, para conhecer-lhes as propriedades, temos que nos expor ás doenças que causam."

Oscar Wild.

17 março 2014

Vem que te faço poesia.

Sabe menino, eu tenho essa mania de carinho, esse quê de dar conforto e sentir o sangue aquietando embaixo da tua pele pela ponta dos meus dedos, tenho isso de querer deitar no teu colo e passar meu corpo em volta do teu só pra sentir teu cheiro, tua textura, sabe menino, as vezes me da uma vontade louca de entrelaçar minhas pernas às tuas, sentir tuas mãos passando pelas minhas costas, teus lábios pousados no topo da minha cabeça enquanto eu tento dormir encaixada no vão do teu pescoço, ter teu corpo assim tão perto do meu menino é tão bonito que parece até poesia.

E como adoro fazer-lhe poesia, faço com o corpo, minhas rimas com a boca encostada na tua, declamo sonetos aos teus ouvidos e dispo-lhe de toda métrica, sou um erro gramatical ressoando em teus ouvidos, uma virgula fora de lugar, mundanamente imperfeita porém com alma de poeta.

Sabe menino, não quero lhe assustar, nenhuma destas palavras é mais forte do que o meu olhar, são partes de mim que aos poucos você vai decifrando, juntando os pedaços que ficaram rasgados por ai, desculpe talvez por escrevê-las, mas sabe o que é menino? Elas são mais fortes do que eu.

Redescobri a força das minhas palavras a tão pouco tempo que a maioria ainda chega enferrujada ao papel, redescobri essa minha mania de carinho a tão menos que não sei ainda como é meu modus operandi, vai ter que aprender a mexer neste teu brinquedo quebrado. Mas sabe o que é? Nem todos meus carinhos vem do toque, alguns chegam em palavras assim como este, que no fim é só mais um carinho pra ti enquanto não posso te trazer no colo pra deixar do lado de fora da porta todos os problemas que lhe montam o pescoço diariamente. Então deita aqui menino, me aconchega nos teus braços e me beija a pele, me deixa ser, fazer e me (re)descobrir carinho.

12 março 2014

Precipi(cio)tado.

E então começa de novo, são novos ares, novas pessoas, mais um começo, nem sei dizer quantos começos já tive sem conseguir começar absolutamente nada e que estranheza é essa que vem quando as palavras resolvem não sair, quando resolvem não começar. As vezes acho fazem isso por bem pois não é bom escrever sobre começos assim logo quando eles surgem, não é bom materializar um começo que nem começou direito.
Definitivamente minhas palavras são mais sensatas do que eu jamais seria capaz de ser, e é por isso que escrevo, enfio o dedo na garganta pra jogar pra fora todas minhas insensatezes contra a vontade de minhas palavras de uma maneira tão inexperiente que ainda não aprendi não ser dona das palavras, ainda não aprendi que elas que na verdade são donas de mim.

Todas as histórias que começam forçadas terminam mal, saem desajeitadas, espalhadas num emaranhado de ideias não construídas, são formadas por palavras que saem à minha imagem, desorganizadas e abafadas escondendo tudo que deveriam de dizer, talvez esse devesse ser um dos tantos textos sobre o amor que já passaram pela ponta de meus dedos e não fluíram, talvez ele seja.

Não aprendi a me render ás palavras do mesmo jeito que não sei distinguir as coisas que sinto, não sei dizer até que ponto tais coisas não vêm disfarçadas de algo maior algo que eventualmente foge apressado deixando um mundo não terminado para trás, não sei até que ponto começos não surgem por carência, e Deus, são tantos começos que não sei nem por onde começar a contá-los; Comecei, por exemplo, tantas vezes esse texto que até agora não fui capaz de começar o que realmente vim dizer, não consegui exprimir a ideia que me trouxe até aqui, todo sentimento que ficou perdido em meio de minhas inseguranças lá onde ficam todas as coisas que minhas palavras teimam em esconder de mim.
Não fui capaz de dizer se vivo num limbo sem saber distinguir o ponto exato onde certas coisas podem mudar ou não, são correspondidas ou não, até que ponto o esboço de algo tão bonito é sequer real, até onde inventamos ou encenamos teatros inteiros sem platéia nenhuma a não ser nós mesmos, onde fica a fronteira da teimosia onde nos enganamos dizendo conhecer tudo que somos, o que pensamos; Somos seres construídos de sabotagens que aplicamos em nós mesmos, construídos de tantas certezas sem ter certeza alguma, planos sem válvula de escape, plantas sem saídas de emergência, tão iludíveis que iludimos a nós mesmos em troca de algo que traga conforto, mesmo que distante, mesmo que seja um conforto trapaceiro; E é nesse conforto que eu termino este texto sem sequer começá-lo.

10 março 2014

Entre(as)linhas.

Nós sempre nos deixamos enganar, vezes por achar a vida difícil, vezes por acha-lá fácil demais. Há quem diga que somos tão frágeis... e que pensamento este, a fragilidade humana é algo encantador e enganador, vezes mais do que a própria vida. Somos frágeis, de uma fragilidade poética, somos livros em uma estante aguardando mãos hábeis que nos escolham, somos páginas feitas de entrelinhas, lombadas calejadas de repetir a mesma história inúmeras vezes esperando alguém que enxergue no fundo do que somos feitos, que enxergue nossos silêncios, que entenda que as vezes o mais importante não é dito, que conheça e reconheça nossos teatros, alguém que nos veja como somos, que busque dentro de nós as coisas que escolhemos esconder entre todas as esquinas de nossa alma, que nos leia como somos, que nos veja entrelinhas.

E são tantas entrelinhas, tantos traços fantasmas escritos em nossa epopeia que vez por outra o ser humano se vê como necessário como se seus ossos e seus pensamentos fossem essenciais para que todo o resto se mantenha evidente, como se todas as palavras que os constituí, que nos constituí, formassem o equilíbrio perfeito de toda (in)sanidade cósmica fazendo assim vez por outra o homem esquecer de sua fragilidade e nessas horas, ah, nessas horas cada linha de sua história se torna risível, são histórias escritas em negrito pra comprovar uma força inexistente, uma urgência de existência vã, são contos narrados com vozes prepotentes, com rugidos de leão, seres que querem se provar acima de qualquer outro e que eventualmente se cansam de sua própria natureza escolhendo brincar de Deus, e são tantos são estes que surgem cada dia mais novos Deuses, novas farsas que insistem em se sentirem mais poderosos do que os outros, são Deuses materiais, Deuses físicos, tecnológicos, Deuses todos estes surgidos de uma crise de existencialismo puro, de uma crise de fragilidade humana, Deuses falsos feitos de falsos homens.

Há de chegar o dia em que a fragilidade seja bem vinda, o dia onde vejamos que cada momento em que vivemos é tão, ou mais, frágil do que nós mesmos, vivemos em um amontoado de exoesqueletos frágeis, destrutíveis ao toque de um dedo, temos histórias, criamos sensações, memórias tão frágeis, tão solúveis no tempo, essenciais porém vulneráveis à vida, que apesar de tão frágil, aniquila tudo ao seu redor com um bater de assas, que nos aniquila em toda nossa fragilidade, aniquila os Deuses, as poesias, contos e crônicas dos quais somos feitos, fragilidade que aniquila a si mesma pra criar assim o engano de que tudo é fácil ou difícil demais, engano nosso, engano por não percebemos que tudo é frágil, assim como nós, assim como sempre foi e sempre há de ser, uma fragilidade que constrói histórias só para então destruí-las, um soneto criado pela fragilidade humana para que aprendamos a viver assim como somos; Histórias frágeis escritas em papel fino e tinta clara, um amontoado de páginas perdidas e vez por outra encaixadas entre as páginas de outros livros, assim nos tornando extremamente vulneráveis, porém eternos.