"Existem Venenos Tão sutis que, para conhecer-lhes as propriedades, temos que nos expor ás doenças que causam."

Oscar Wild.

19 novembro 2011

Puzzle




A rotina era a mesma, acordava como si mesma, se escovava pra fora da própria boca e caia no mundo como só mais uma foto bonita, se escondia por trás de algumas palavras mal humoradas e alguns sorrisos verdadeiros, era sempre a mesma, gostava das coisas como eram, de como tudo permanecia, odiava perder as coisas em sua vida, nada era adjacente e cada peça que um dia já a completou tinha a estupida tendência de fazer falta uma hora ou outra, essa é a história de uma dessas peças, ou de algumas varias delas.


No começo aquilo só estava ali, não rendia nada mais que algumas boas risadas, era divertido, até confortante saber que depois de qualquer dia teria aquilo para fazê-la rir, com o tempo foi conhecendo mais o motivo de tanto riso, conheceu aos poucos suas dores, e as conversas que antes eram cheias de gente, agora ficavam só entre os dois, foi precisando agora, não mais do riso, mais da companhia, o conforto era de ver aquilo lá, não importa com qual humor, coisa que variava mais do que as vezes que ela trocava de roupa em um dia, sentia as lagrimas nos olhos quando essas também rolavam do outro lado do seu mundinho onde seu conforto permanecia, longe demais pra ela se sentir realmente completa, perto demais pra ela deixar aquilo simplesmente ir.
Um pouco mais de tempo e aquilo se tornou essencial, quando não ficava grudada no computador, grudava no celular, esperando, sinais do tal conforto, sorrindo quando estes apareciam, vezes por outra ficava horas imaginando algumas daquelas palavras ditas de verdade, e não só impressas nos pixels que a cercavam, lembra-se de muitas palavras até hoje, velhas palavras que não vão desgastar nunca, palavras que foram construindo um amor, silaba por silaba, e que amor estranho era aquele, tão fraternal e tão carnal ao mesmo tempo, ao mesmo tempo em que queria embalar aquele conforto nos braços como um irmão pequeno, queria os beijos e abraços, queria aquele conforto pra si, um conforto que ficava muito longe, e a distancia que era tão física foi afastando o emocional, até que ela se trombou com alguma outra peça por ai, e essa peça insistiu e ficou, não cobriu, mas substituiu um encaixe antigo do antigo conforto, tão novo e tão antigo ao mesmo tempo, mas essa peça, a nova, era tão fascinante que foi lhe ganhando o sentimento, e a distancia era curta, os braços reconfortantes estavam logo ali, tão perto, tão tentadores, tão reais até o dia que o antigo conforto resolveu lhe bater a porta, e ela finalmente sentiu aqueles braços envolta de si, viu a face que tanto havia lamentado seus temores, os olhos que tanto haviam lhe feito rir, tudo isso, e de tão longe, ela sempre soube que aquela era uma peça especial, sabia que nunca iria deixar de amar aquela peça, mas não sabia mais que tipo de amor, a nova peça a conquistou mais do que ela podia, e queria imaginar, meses depois já estava apaixonada por aquela peça tão convidativa, e foi ali, depois de meses, nos braços do antigo conforto, que ela percebeu que aquele amor havia mudado, e o quanto havia mudado, amava aquela estranha peça como um irmão, ele jamais deixaria de ser um conforto, era uma peça-gêmea, enquanto a nova peça, bom àquela peça era outra das peças únicas que ela sabia que só iria encontrar uma vez na vida, tinha mais do que um encaixe perfeito, havia se tornado a única peça perfeita para ela.
Mas por mais encantada e por mais que ela tivesse começado a amar o novo conforto que tinha, aquela nova peça, ela nunca deixara a antiga pra trás, manteve ela ali, fiel como uma irmã, como o que ela podia ser, até um dia que aquela peça, aquele conforto achou outro conforto para si, outra peça pra substituir a peça que ela, gostaria, que tivesse ocupado na vida daquele conforto, tentava convencer a si mesma que não era ciúmes que ela sentia, mas no fundo sabia que era, mas sabia conviver com aquilo, seria hipócrita se não soubesse, mas as coisas não foram fáceis, aquela nova peça machucava seu antigo conforto, o fazia derramar as mesmas lagrimas que ela já quisera muito secar, aquela nova peça começou a deformar aos poucos seu conforto, e ela, bom ela era apenas uma garota, não sabia o que fazer, tinha seu próprio amor, mas não conseguia ver sua peça-gêmea morrer por um amor tão desafortunado, fez de tudo, foi o seu conforto quando este precisou, mas nem isso funcionava, até um dia em que aquela peça, que era tão especial, tão singular, aquela antiga peça pareceu tão bizarramente estranha, que ela subiu suas muralhas e ativou o modo defensivo que a muito estava adormecido em si, aquela foi à única vez que havia tido a coragem de magoar aquele conforto, e como ela o fez, sofreu por dias, quieta, fechada no próprio mundinho, sentida, depois de muito tempo aquela peça foi lhe voltando, aos poucos, dizia que seu novo conforto estava mudando, mas por dentro a garota nunca conseguia sentir aquele seu conforto feliz, completo, com algum encaixe que lhe fosse perfeito.

Hoje a garota viu um texto de seu antigo conforto para sua nova peça, e sem saber por que, a garota chorou, se sentiu perdida, não tinha seu conforto a seu lado, nem mesmo ele que estava teoricamente tão perto, e pela primeira vez se sentiu ameaçada, como se tivesse perdendo aquele velho conforto, aquela sua peça-gêmea, aquela peça que entrou tão espontaneamente em sua vida, e que ela pela primeira vez via o perigo de perder.

27 outubro 2011

Cold Heart Lonely Bitch.






Não que ela não apreciasse a solidão, fazia isto, mas solidão em excesso machucava, a carência despontava um pouco mais firmemente do que o normal, mas ainda sim conseguia permanecer a mente sã e solida a vista de uma tarde sem nenhuma outra viva alma, virtual ou real, os amigos que eram escassos já não lhe faziam mais festa, o namorado, bem, que ele ficasse lá onde quisesse, a mãe estava fora e nem mesmo o cão lhe fazia companhia, o livro que descansava ao seu lado já não parecia querer ser lido, a música parecia barulho, o dia apesar de ensolarado, ficava opaco, e a vista das janelas sem cortinas mais parecia uma boca escancarada pro mundo lá fora, perdera a vontade de realizar velhos sonhos, perdia a oportunidade também, sentia raiva ao som do riso de outrem que vinha lhe incomodar pelo ar pesado de calor, sentia falta das tardes em que passava lendo com o mundo a lhe observar, e não o contrario.

A noite chegava a ser pior, a escuridão que antes era amiga, agora ficava opressora e vazia, não tinha nem mesmo a companhia do luar, ouvia a TV que tagarelava para a mãe na sala, e mesmo quando tentava se sentar e conversar com esta, fosse com a mãe ou a TV, era quase que completamente ignorada e voltava ao seu lugar, se tinha algum alivio com o computador, este lhe trazia problemas de outras pessoas, quando mal conseguia resolver os próprios, mas de todos os males este era o menor, até por que o ser humano nasceu com a incrível habilidade de cuidar da vida dos outros, esquecendo-se da podridão da própria enquanto se foca nos erros que terceiros estão cometendo, a melhor terapia é a que os próprios psicólogos utilizam.

Não sabia mais o que fazer com o tempo, ele agora se arrastava mais pesado que as nuvens que iam e vinham no céu durante o dia ameaçando abrirem-se e despejarem sobre a terra todo seu peso, pegou-se pensando com saudades os tempos dos banhos de chuva com os vizinhos, quando ficava de pijama deitada no concreto quente do estacionamento sentido os pingos pesados de chuva lhe amassar a pele, sentiu falta do tempo em que era dona das risadas que hoje tanto a irritam, olhou no espelho e viu um rosto jovem, alguém que conseguiria passar por 16 ou 25 anos se quisesse, viu mais além e olhou o quanto havia envelhecido, não tinha mais vontade de sair com quase estranhos e passar as madrugadas com etílico e algum outro corpo jogado ao seu lado em qualquer pista escura que pudesse encontrar, não tinha mais vontade de sair do conforto da própria casa e encarar o mundo com todas as faces que este tinha para lhe apresentar, havia ficado medrosa, temia o mundo e temia a solidão, as paredes esmagavam seus olhos que vagavam sem rumo e sem proposito procurando algo em que se focar, havia se trancado em uma bolha que chamava de solidão, ela mesma havia feito isso, percebeu como havia começado a afastar a companhia das pessoas, de como havia cavado a própria cova, deixando-se ficar em um mundo que odiava, em um mundo que a odiava de volta.

20 outubro 2011

Lonely Day.






Amassou no peito o livro que carregava, era a única coisa a qual podia se apoiar, seus pés doíam amassados em um salto desconfortável e se amaldiçoava por ter escolhido ir vestida como gente a um evento tão passável como o da noite passada, o vento frio entrava pelo casaco e pelo fino vestido que usava, as pernas nuas e brancas quase brilhavam a fria luz que saltava das ultimas horas de dia, apertava o choro nos olhos mais arduamente, não se permitiria chorar na rua outra vez, limpou nos olhos as únicas lagrimas que escaparam e continuou a andar pelas ruas desniveladas quase cambaleando sobre o salto.
Olhava em volta sem reconhecer o caminho, olhou para si mesma e não viu nem mesmo o vislumbre da garota que era há meses atrás, sentiu-se mais perdida do que se estivesse mesmo no caminho errado, percorria com os pés descalços o cascalho e as folhas mortas acumuladas dentro de si, fazia tanto tempo que não ousava por os pés naqueles caminhos, a terra batida estava infestada com ervas daninhas e o mato havia avançado quase todo o caminho deixando apenas uma fina linha de pedras onde antes corria sua estrada, dentro de si, ela chorou, viu no que havia se tornado, em tudo que deixou de lado por tanto tempo, nos princípios que havia jogado fora, as palavras que havia abandonado, as pessoas que havia desapontado via a si mesma nua e suja com uma garrafa entre as pernas, bebendo do liquido quente como criança sorvendo o leite do peito materno, bebia tudo que havia feito, os pecados que havia cometido, bebia a sujeira dos atos, das palavras, do abandono, e bebia sozinha, assim como estava, e sempre esteve, nenhuma das mãos que tão presentes estavam no riso estavam lá agora para lhe limpar as lagrimas dos olhos, abriu os olhos e viu os sinais de luz, os carros que passavam ao seu lado, os estranhos que fitavam aquela garota incomum andando torta por ruas tortas com pensamentos tortos. Fechou novamente os olhos. Dentro de si sua consciência que ali estava, decidira chama-la assim, fitou seus olhos nos seus, o cabelo e o corpo em um só nó, cheirava como se a muito não visse água, estava machucada em varias partes, e no meio do peito um corte passava rente entre os seios e descia-lhe até o umbigo, com um sorriso que lhe cobria o rosto não deixando nenhum espaço para sanidade ali, a consciência a pegou pelas mãos, beijou com lábios secos e ásperos os dedos rígidos de medo, e com uma ultima olhadela enfiou a mão entro do próprio corpo por entre o corte “agora se sinta por inteira minha querida" aterrorizada tentou retirar a mão das entranhas úmidas, mas tudo que conseguiu foi retirar um pouco do antebraço, e o sangue negro cobria a pele como se fosse derramado na neve, o cheiro de podridão a atingiu e nunca havia sentido tal coisa, tamanho terror, não se sentia mais capaz de abrir os olhos "vai em frente, você sempre disse se conhecer tão bem, não é mesmo?" e a criatura consciência, que aos poucos se parecia mais animal e menos humana, forçou seu braço mais adentro de si, a garota desabou e a consciência caiu de joelhos diante dela, limpou-lhe as lagrimas com as mãos sujas de sangue podre "pobre criança", ela sabia muito bem que não era mais criança, gritou com fúria, com dor, com medo, gritou até não restar mais folego, abraçou a consciência que ficou rija diante de si, abraçou a podridão que havia nela e suavemente retirou a mão que ainda residia dentro do buraco ensanguentado no peito de si mesma, manchou com mais sangue a alva pele de seu corpo limpando as mãos e beijou o monstro humano que havia dentro de si nos lábios sussurrando um pedido de desculpas.
Caiu mais ainda dentro de si, em outro nível do próprio inferno, não queria mais aquela podridão dentro de si, não queria acabar assim como se via, sabia tudo que havia feito de errado, mas nada é permanente a não ser a memoria, e ela sabia, que tudo lhe assombraria pelo resto dos seus dias, não por ter traído a confiança de outro alguém ou por ter machucado algum outro coração, mas por ter traído a si mesma e se perdido no mundo em que ela mesmo criara deixando de fora a melhor parte de si, se levantou na escuridão fétida e com os pés descalços, cavou o terreno que havia em sob si e lá deixou suas lagrimas virarem vida, não ficou para saber o que aconteceria, fechou o buraco e abriu os olhos, estava sentada no ônibus para casa, os pés ainda doíam feito o inferno, ainda não se sentia feliz, mas via que agora sabia o caminho de volta.

23 agosto 2011

Brincadeira de Mulher




O quarto era o mesmo, as mesmas paredes rosa com muitos bichos de pelúcia empoeirados, os moveis de madeira vermelha escura e a mesma cama comprida que por ela estivera sempre ali, já que não tinha memórias daquele quarto sem ela, o quarto era o mesmo, a garota, em tese, também, ainda tinha o mesmo nome, a mesma família, o mesmo rosto que conseguia aparentar quinze e vinte e cinco anos ao mesmo tempo, estava mais velha, já tinha o corpo de mulher agora, o que na maioria das vezes a ajudava a entrar nos bares e conseguir sua pequena dose de diversão sem ser abordada sobre seu RG, não tinha os seios fartos que desejava, eram pequenos, porem redondos e belos, pelo menos ela podia dizer que havia quem  gostasse, não tinha o corpo de sua preferencia também, mas isso já é história para outro dia.
A garota já não era mais uma pequena mulher, havia se tornado uma mulher feita aos olhos de quem ela desejasse que a visse assim, sabia abusar do que tinha para conseguir o que queria, e isso a deixava com uma pontada de remorso, não se sentia suja, mas era algo que deveria lhe incomodar, mas que não incomodava, e logo ali ela encontrava um problema, na falta de algo que ela julgava necessário, ou na verdade ela temia que fosse o remorso escondido que se disfarçava de falta apenas para lhe deixar mal.
Naquela noite a garota mulher quis deixar de ser mulher, simplesmente cansou de se sentir com aquela falta de moral para com si mesma, não sabia o que queria da vida, muito menos o que queria para amanhã, que já foi ontem a um bom tempo, naquela noite a garota queria voltar a ser criança, não teve mais vergonha do corpo que levava, não viu mais os seios como objeto de desejo alheio, era apenas uma garota, e com a mesma nudez que ela deitava em outras camas, sofás, chãos, escadas, carros, enfim, com a mesma nudez em que ela amava e já havia fingido amar, ela deitou como criança na mesma cama de seu quarto provisório de infância, se sentiu estranha morando ali, relembrou os tempos em que só via aquele quarto de final de semana, se sentiu velha, mas o sentimento durou pouco quando se lembrou de que por aquela noite ela era uma criança, e como todo mocinho tentador dizia nos filmes que via com sua vó quando era pequena “a noite é uma criança” sentiu uma pontada de riso, extremamente irônico algo que na verdade não é nada além de um período de tempo, ser uma criança, algo também tão adulto ser uma criança, dessa vez riu de verdade, era exatamente o que ela desejava ser, ou o que era, já não sabia mais, por aquela noite ela já havia decidido, seria criança, seria noite.
Se sentiu segura fugindo do ar frio debaixo das cobertas, o corpo quente em pele transformou tudo em calor, e o seu toque era macio, era pele contra pele, sua pele, contra ela mesma, procurou seu companheiro de todas as noites, um cachorro de pelúcia que a acompanhava desde os dez anos de idade, abraçou seu pequeno corpo macio e sintético e o toque que lhe retribuiu foi inocente, recostou sua cabeça entre os seios e o abraçou, nada da jovem mulher, naquela noite ela era apenas uma criança, dormindo nua em seu corpo de adulta, tratando como amigo um animal de pelúcia e sem receios de se sentir suja, ou do medo desse receio não vir escondido como brincadeira de mulher.

A velha historia da garota que queria ser mulher e se disfarçava de criança, fica assim pra sempre com uma cabeça entre os seios e os pensamentos em outros corpos, e o corpo em outras mentes.

25 julho 2011

Hey moon, please forget to fall down.




A lua já não era mais amarela, nem a mesma de tantas luas que ela já viu, nunca na mesma grama, as vezes em pisos frios,  vezes em escadas congeladas, vezes em cima de uma maquina de lavar no verão, ou até mesmo em qualquer concreto, mas nunca naquela grama, nunca aquela lua, que não mudava nunca e era sempre diferente.

Os pensamentos iam se desencadeando sozinhos em um frenesi descontrolado e arrebatador enquanto seu corpo permanecia lá inerte ao som da luz da lua, a noite começava a ficar embaçada com a fumaça de sua respiração que vez por outra ficava ofegante, o céu no interior era mais negro raciocinou ela, o pequeno grande corpo deitado sobre o orvalho das estrelas refletidas no frio da grama, ela sequer sabia em que estágio a lua estava, na verdade não se importava em saber, sabia que não estava cheia, sabia que estava linda, sabia que teria problemas se não se cobrisse bem para dormir naquela noite, sabia que não conseguiria dormir direito, sabia que não adiantava saber de nenhuma outra coisa.

Mas também sabia que a lua nunca era a mesma, mas algo que se assemelhava a si mesma, lhe dizia que já havia pensado isso e talvez até dito nesse desencadeamento louco de pensamentos, na duvida de não saber resolveu pensar de novo.

Usava uma jaqueta de couro falso por cima de uma blusa fina de pijama, ironicamente riu por ter trazido um shorts como complemento do pijama, agradeceu a sobriedade por faze-la continuar usando a calça jeans para ir ver o jogo de bêbados no meio da madrugada que a fez deitar para ver a lua, sentia falta de varias coisas, nenhuma delas de grande relevância, sentia falta de insetos, mas resolveu não perguntar a ninguém fora de sua cabeça o porque da ausência deles, ouviu algo que pareceu um grito de gol, mas nem aquilo que fisgou sua concentração por alguns instantes fez a lua se metamorfosear, continuava a mesma, pálida sob um céu negro que não parecia infinito mas que nunca havia lhe dado vislumbres de seu fim, não conseguia mais pensar em nada, o frenesi havia aumentado e muitos pensamentos saíram voando se espalhando e por vezes se enganchando nos galhos mais próximos das arvores ao seu redor, não sabia dizer a lunática explicação pelas lunações mudasticas da lua

"Amor levanta da grama" Fim, não um fim espontâneo, nem mesmo um fim literal, mas foi o fim do frenesi e do arremesso olímpico de pensamentos pelos galhos das araucárias, com o termino de tudo que não envolvia o mundo fora de si mesma, o que ironicamente abrangia todo resto, veio a resposta meio escarrada, meio cuspida ligeiramente tonta pelo breque inesperado no lugar certo, nenhuma grama era igual, mas aquela podia facilmente passar por qualquer outra, nenhum lugar é sempre o mesmo, mas todos os outros poderiam começar a mesma angustia que ela passava quando olhava a lua, todos os outros menos aquele, naquele momento, com aquela lua que era imutável mas que nunca a convenceu que não era trocada a cada vez que seus olhos se punham sobre ela, naquele lugar ela não sentia a falta de tudo que ela nunca teve, não suspirava por tudo que sempre imaginou e nunca aconteceu, não tinha mais em si um vão entre os sentimentos que abrigava tudo aquilo que vinha inconscientemente sempre que ela via a lua, naquele dia o vão não era vão, era rombo, era coração, era tudo e no vão não existia mais melancolia, lá só existia um sorriso dizendo “Deita aqui comigo, eu tô vendo a lua.”



Hey moon, please forget to fall down.

Hey moon, don't you go down.

You are at the top of my lungs.

Drawn to the ones who never yawn.”


19 fevereiro 2011

Enfim Nada.

Ela finalmente aprendeu o que era dor,aprendeu quanto a palavra chance e as implicações de uma possibilidade eram capazes de a machucar e a sensação de estar desamparada era uma morte decadente e ritmada.


Havia aprendido quanto suas mãos eram capazes de ferir não só terceiros mas também a si mesma, a dor era tanta que não lhe cabia no peito, ela tinha que compartilhar e nessas palavras estão impressas seu sofrimento.

Era como se não houvesse tido nenhuma história, era como se só o nada completasse um certo período de sua vida e no pouco tempo em que foi ela mesma completa por outros pensamentos que não eram de si mesma, era como se nesse singelo período agora não restasse migalha, como se também tivesse este se apagado e enfim se tornado nada.

Isto meus caros amigos era o medo, isto era a dor, isto era enfim nada, isto havia se tornado ela.

08 fevereiro 2011

One more shot of Wiskey.


O copo de wiskey pesava mais do que o normal em sua mão, era sua terceira ou décima dose, não se lembrava exatamente, gostava da sensação de dormência nos lábios inferiores que o wiskey lhe causava, bebia puro e sem gelo apesar do clima quente e abafado do pub, acendia um cigarro vez ou outra para três tragadas depois apagar na placa de 'Proibido Fumar' que havia ao seu lado, esta era sua ultima noite.
O balcão sujo e melado de cerveja derramada grudava em seus braços nus, sentia pequenos farelos de amendoim dormido na extensão do cotovelo ao pulso mas não exatamente se importava com eles, eram apenas pequenos pedaços de universo que estavam lá assim como ela.

Flash.

Já era de manhã, estava deitada em uma almofada de flor conversando aos cochichos ' Eu confio em você, é a minha melhor amiga '. Foi uma das ultimas coisas que escutou.

Lá se vai.

O dono do bar começa a recolher alguns copos, pela primeira vez percebe que esta lá já há algumas horas e que é uma das poucas remanescentes.

Flash.

Era passada hora do almoço, o sol lhe cegava e queimava a pele, o açaí gelado lhe dava uma sensação de paraíso. 'Me chama de idiota?' 'Idiota'.

Lá se vai mais uma.

Uma mão lhe puxou os ombros e uma boca mais embriagada que a sua própria tentou lhe roubar algumas caricias nesse fim de noite.

Flash.

O tempo chuvoso e úmido lhe fazia tossir. 'Me da à mão?' ... 'Acho que não sou mais capaz de andar na rua sem estar de mãos dadas com você' isso veio de uma quase irmã.

Mais uma para o pote.

Ela riu com a idéia de que se estivesse um pouco mais bêbada, não teria recusado a noite que aquele estranho havia lhe oferecido.

Flash.

A noite era quente e a cerveja gelada ' Você não acha que vai valer a pena amar alguém que te ama?' 'Vai'. Alguns meses depois. 'Eu te amo'.

Mais uma.

Um copo a mais não faria mal para ninguém, ela sempre quis se chamar ninguém.

Flash.

Branco.

Esta foi sua ultima.

04 fevereiro 2011

Saudadar.


Saudades não só doi pela falta que faz saudade doi pela dor de não ter, pelo desconhecido do faltar, da desconfiança do ser, saudade doi pela graça de não ver, pela expectativa do encontrar, pela imaginação do fazer.
Saudades é, jamais saudades será, saudades é um plural no singular eterno, um só não sente saudades, mas cada saudade é única, é rara e desigual.
Sou saudades, saudades serei, saudades não sei se fui, se me doi tanto a arte do faltar me pergunto se antes tive no peito a dor do saudadar, dessa saudade até das palavras que antes não havia inventando, já sinto saudades por saber que não serão elas dignas de palavras encantadas pelas múltiplas saudades.
Saudade assim simples, não conjunta formando as 'Saudades' em si, mas a saudade é boa, a saudade valoriza, encanta nos olhos quem sente, saudade faz falta, é bom sentir saudade, sentir o fogo que acende no lugar quando ela se vai, agora saudades é a pior desgraça do mundo, é feita por cada saudade sentida, saudades doi uma dor que muitas vezes se faz forçada a ser alimentada por outros ares que não são os da saudade, saudades às vezes se faz esquecer, saudades às vezes morre, saudades às vezes mata, saudades são coniventes, juntas muitas saudades sufocam, muitas das saudades acabam se tornando lembrança para alguns e dor para outros.
Não sei se sinto saudade.
Não sei se não sinto saudades.
Sei que sou um oco esperando os dias para ser preenchido.

17 janeiro 2011

Singularidade duplicada.


Sou alguém sem singular, choro no plural, mas apenas por uma das metades. A minha.
Amo por ambas as partes. Desigualmente.
Vivo uma só vida. Sendo expectadora.
Sofro por mim mesma. Por minhas metades.
Sou uma só. Feita de dois corações.
Decepciono-me com ambos. Feitos quase inteiramente de mim.
Sou eu sendo outro. E outro sendo apenas metade.
Vejo com meus olhos. Vejo os teus.
Machuco-me em outras peles. Nas peles de minha metade.
Machuco-me por outras peles. Pelas peles de minha metade.
Sobrevivo apenas em um coração, sustentado por apenas uma pele.
Faleço em ambas. Em tempos completamente distintos.