"Existem Venenos Tão sutis que, para conhecer-lhes as propriedades, temos que nos expor ás doenças que causam."

Oscar Wild.

01 maio 2014

Ato II - Nunca fui Primavera.


Floresço no inverno.

Ganho mais vida quando o vento encontra seu caminho por entre os fios do meu cabelo, não fui feita para temperaturas amenas, nasci para os andares austeros e os rostos mau humorados e é tão comum me sentir em casa em meio a toda essa cacofonia de sons,  sou só mais uma coisa que chega junto com as folhas que o outono derrubou; Vez por outra me pego dançando aos acordes agudos do vento, me vejo cantando junto a teus gritos, sendo uma sem ser nada; Floresço no inverno e deixo o inverno florescer pra fora de mim, deixo todo esse frio que guardo no peito sair e ir assombrar outras vidas, deixo meus ventos se enrolarem nas mãos solitárias que balançam a esmo procurando sempre outras mãos, vacilantes em procura de contato, de uma direção; Sempre achei lindo o contato que o frio traz consigo, o calor de juntar pele com pele, de abrir o peito e deixar outra pessoa entrar, tudo tão sutil, tão vago, que só pode ser observado a curto alcance; Isso é a melhor coisa do frio.


Não sou inimiga do frio, muito pelo contrário, espero por ele todos os anos, mas me diz, quando foi que teu frio chegou assim tão sem aviso? Me faz entender como ele apareceu tão rápido, foi o vento que trouxe ele pra você? Não faz sentido mentir, minhas palavras entregam tudo que eu tento esconder, teu frio chegou bem quando o meu tinha resolvido ir embora, resolvi seguir os conselhos de "Deixa acontecer" e deixei, libertei do peito o medo e vi ele de mãos dadas com meu frio andando sem saber pra onde ir depois de tanto tempo aqui dentro, pobres coitados, não sabiam mais enxergar o mundo sem ser por meus olhos.

E foi assim que fui de peito aberto procurar um pouco de calor pra preencher o espaço que ficou e que surpresa a minha quando dei de cara com teu frio, primeiro tentei alcançar um pouco de calor, mas acho que foi em vão; Depois da negação veio a indignação, não soube como lidar com o sentimento de não ter rumo, não ter nem meu frio nem teu calor pra me guiar, confesso que é bobo, mas tua pele me fazia muito bem, o calor das tuas mãos, teu contato, algumas vezes conseguia encontrar conforto até mesmo nos teus olhares, mas não adianta não é mesmo? Ficou tudo gelado agora; Ainda não consegui a aceitação, é tão difícil pensar em procurar meu frio de novo, acho que só vou esperar que os mesmos ventos que trouxeram o seu tragam o meu de volta para casa.


Queria não dar sentido à todas essas palavras, acordar com teu calor de novo pra ver que foi só uma frente fria, queria saber o porque; Não acho mais que você vá ler as coisas que escrevo, não faz parte do teu frio, na verdade mal faz parte do meu, vou ter que alfabetizar o meu novamente, ensinar que ele pode e deve, de vez em quando brincar com as palavras que me vem a mente; Tenho que reaprender a viver no meu inverno, não deve ser difícil depois de passar pelo teu, e que ironia essa, afinal de contas você descobriu o que é a Teoria do Congelador: gelo gera mais gelo.

Vou reaprender a ser vento e dançar por entre os lamentos do mundo, o vazio ainda está aqui sabia? Mas logo logo volta meu frio, logo logo eu reaprendo pra que fui feita.

Reaprendo a florescer no inverno.