"Existem Venenos Tão sutis que, para conhecer-lhes as propriedades, temos que nos expor ás doenças que causam."

Oscar Wild.

25 abril 2014

Ato I

O telefone toca de novo sem que eu me dê o trabalho de atender, poderia até dizer algo para quem quer que esteja do outro lado, mas não significaria nada.

Nunca fui boa em sentir as coisas, mas talvez você já saiba disso. Não sei controlar empatia, medir dor, pensei que já tivesse amado mas há quem diga que não. Mas se tem algo que sei fazer, essa coisa é querer, quero as coisas com todas minhas forças, seja o que for, até mesmo não querer nada. Sempre quis ter alguém, quis meu lugar, minhas coisas, sempre quis ser alguém, sou ótima em querer e esqueci que me falta aprender a lidar com a negação, nunca sequer aprendi a lidar com a conquista.
Aprendi a te querer mas sem saber se vou ser capaz de te sentir, se chegar mais perto vai ver que sou uma bagunça. Risco e rabisco os contornos de mim mesma todas as manhãs antes de sair de casa, troco a roupa de baixo e o humor durante a tarde, deixo minhas defesas caírem junto com a água morna logo quando anoitece, sou meu próprio mundo, sou Caos.

Quero te ver sorrir com os olhos, queria saber o que você vê dentro dos meus; Me diz, em quanto tempo nosso tempo vai passar a ser tempo demais? A música que toca de fundo não abafa os pensamentos que correm desordenados aqui dentro, esse texto precisaria de um cigarro mas sei que ainda não tenho meu lugar, vou ter que esperar e dar vasão às palavras me parecem mais urgentes do que o vício que carrego com tanto carinho. E falando em carinho você sabe o quanto gosto de entrelinhas não é mesmo? O que consegue ler entre estas? Me escreve um texto para completar esse, tem tanta coisa aqui dentro que só você pode dizer, queria saber quantas vezes viu meus contornos, meus limites, se já achou algum pedaço de minhas defesas preso entre as grades do seu ralo.

Vou tropeçando pelas palavras querendo aprender a sentir, te atuando dentro do meu palco e vendo tuas reações fictícias, já mandei meu coração ao inferno procurando as respostas das perguntas que nunca vou saber fazer, já tentei preencher esse vazio que alimentei dentro de mim, e sabe, não sei se essa vontade repentina de sentir não é só mais um artifício para tentar remendar essa falta de vontade de viver que tenho de vez em quando, talvez seja cansaço de tentar sobreviver aos dias, talvez seja só falta de vida e de tudo que eu sei sentir falta.

Não quero te tornar algo que sirva só pra fazer falta, não quero te sentir para viver nem viver para te sentir, quero meu equilíbrio, ordenar todo o bem que eu sei que há em mim, aprender a medir meus sentimentos, minhas avalanches, quero me sentir viva e te sentir vivendo também, não fui feita para sobreviver à vida.

Da próxima vez que o telefone tocar eu vou dizer: "eu estou aqui para você usar, mas dessa vez, tenho algo a perder."