"Existem Venenos Tão sutis que, para conhecer-lhes as propriedades, temos que nos expor ás doenças que causam."

Oscar Wild.

18 setembro 2014

Antes do começo do nosso fim.

Vê se pode justo hoje eu sonhei contigo, chamo de sonho pois nele já não havia mais nós, já tinha tido fim nosso pesadelo e sobrou isso, sobraram nós jogados a esmo naquele sonho onde eu tive medo de te olhar na cara, sobrei eu que sonhei contigo e sobrou tu que no fim acabou sobrando aqui dentro da minha cabeça só pra qualquer hora aparecer quase gritando pra provar que existiu, você não existe mais na minha vida e por mais que eu seja feliz com isso, algumas memórias não gostam de ser esquecidas.

Hoje, por causa do sonho eu lembrei muito de ti, me veio uma memória gostosa, dessas que a gente guarda com carinho e não deixa o mundo ver muito pra não estragar.
Lembra daquela vez, não sei dizer se foi bem no começo, mas deve ter sido, foi na época em que eu ainda era feliz do teu lado, a gente tinha ido cedo pra paulista ver uma peça de teatro, era um dia dos mais normais, eu tinha acordado do teu lado, escovado os dentes, a gente tinha conversado, beijado tivemos todos os 'ados' que sempre tínhamos e que fizeram da gente o casal tão acomod'ado' que nos tornamos. Mas naquele dia andando bem na frente do parque Trianon enquanto a gente conversava você me rodopiou do nada e me beijou no meio de toda aquela gente andando distraída à nossa volta; Não sentia mais os meus pés no chão, em um segundo o meu mundo parou enquanto todos os outros corriam em volta de mim, imagina, eu que nunca soube o que era amar e ser amada de volta naquela hora exata descobri, naqueles segundos em que não existia mais nada além de você e o meu coração que batia feito louco experimentando algo que nunca soube que podia sentir, naqueles segundos eu fui genuinamente feliz e estávamos bem, tão bem quanto nunca mais iriamos ficar.


As vezes eu gosto de relembrar isso, sentir o calor no peito que um dia aquilo me causou. No fim somos só isso, memórias, vivemos de memórias e juntando memórias, somos uma caixa de histórias que tentamos compartilhar, contamos nossas histórias para que elas não morram conosco, no fim algumas memórias são boas demais pra serem esquecidas, nem todas merecem o mesmo fim que nós.

Nunca tive problemas em lembrar disso, mesmo depois do fim ela ainda é uma história tão bonita pra mim, pena que depois sempre sobra aquele gosto amargo que nós deixamos.
Dói lembrar quantas vezes mais você tentou fazer isso, dói lembrar quando perto do fim você me rodou exatamente no mesmo lugar e tudo que eu podia pensar era como aquilo parecia errado, como não passava de uma encenação de uma felicidade que nós nunca mais iriamos ter, dói lembrar o quanto nós estragamos essa nossa primeira vez tentando recriar nossa melhor história, reviver aquela memória só deixou ela tão desgatada quanto nós, meu coração nunca bateu da mesma forma e aposto que o seu também não.
Nunca mais vivemos aquele domingo por mais que tivéssemos tentado, é estranho pensar a quanto tempo já sabíamos que não ia dar certo, dias, semanas, meses, dói demais dizer que já fazia mais de um ano? Acho que sim


Sinto falta daquele domingo e de tudo que ele causou em mim, essa memória tua me da uma saudade danada, mas pena que não é de ti. Tenho saudade de mim, saudade de ter a casa e o coração cheio, saudade de sentir o mundo parando, e me desculpa dizer isso desse jeito mas a culpa é tua, não sinto tua falta mas você depois que saiu me deixou com saudades de ser alguém que eu só soube ser contigo, a casa já ficou vazia por muito tempo e eu ando me acostumando com isso, só as vezes que me da essa saudade que arde o peito, essa vontade de deixar o amargo pra trás e criar novas memórias.

Preciso de novas histórias pra alimentar esses dedos cansados de reescreverem a mesma vida.