Cansei de ser singular, tenho em mim tantos plurais que me reconhecer singular é ofensa.
Cansei de ser passado, na primeira, segunda ou terceira pessoa já cansei de viver de memórias e me alimentar só de algumas histórias desgastadas pelo tempo e pelo que o amor e o que a falta dele faz conosco. Quero ser verbo, mover tua vida e criar teus sonhos, quero amar, correr, sonhar, poder, ser, estar e parecer; Posso ser advérbio, teu adjetivo, não sei mais viver somente como substantivo, quero ser pronome! Pronome tu, pronome eu, pronome nós, e no fim quem tem teu nome? Vem brincar de adjunto e me deixa ser artigo, quero ser a tal da tua vida, me coloca no meio dela e me deixa escrever tuas frases contigo. Posso ser teu prefixo e te fazer sufixo, te completar, te tirar o sentido, posso te mudar sem tirar nada do que já era.
Me deixa ser sujeito e me sujeitar as tuas loucuras, me transforma em mim e me conjuga teus verbos, esquece as outras gramáticas e me escreve com o coração.
Vem ser vírgula e ritmar com teu canto essa história, vem ser aspas e guardar em ti minhas palavras, vem ser tudo sem nunca querer ser ponto final.
Me faz licença poética e me escreve o corpo, em minha pele deixa brotar teus versos, me rima a alma enquanto me desenrola de teus dedos.
Vem ser acento e crase, me da ênfase e me muda a forma, me faz história e me constrói com teus parágrafos, me faz verso e me deixa ser tuas palavras, daqui até o fim de nosso texto, seja letra que esta é minha letra zero.