"Existem Venenos Tão sutis que, para conhecer-lhes as propriedades, temos que nos expor ás doenças que causam."

Oscar Wild.

15 agosto 2014

Letra 0.

Cansei de ser singular, tenho em mim tantos plurais que me reconhecer singular é ofensa.

Cansei de ser passado, na primeira, segunda ou terceira pessoa já cansei de viver de memórias e me alimentar só de algumas histórias desgastadas pelo tempo e pelo que o amor e o que a falta dele faz conosco. Quero ser verbo, mover tua vida e criar teus sonhos, quero amar, correr, sonhar, poder, ser, estar e parecer; Posso ser advérbio, teu adjetivo, não sei mais viver somente como substantivo, quero ser pronome! Pronome tu, pronome eu, pronome nós, e no fim quem tem teu nome? Vem brincar de adjunto e me deixa ser artigo, quero ser a tal da tua vida, me coloca no meio dela e me deixa escrever tuas frases contigo. Posso ser teu prefixo e te fazer sufixo, te completar, te tirar o sentido, posso te mudar sem tirar nada do que já era.

Me deixa ser sujeito e me sujeitar as tuas loucuras, me transforma em mim e me conjuga teus verbos, esquece as outras gramáticas e me escreve com o coração.
Vem ser vírgula e ritmar com teu canto essa história, vem ser aspas e guardar em ti minhas palavras, vem ser tudo sem nunca querer ser ponto final.

Me faz licença poética e me escreve o corpo, em minha pele deixa brotar teus versos, me rima a alma enquanto me desenrola de teus dedos.

Vem ser acento e crase, me da ênfase e me muda a forma, me faz história e me constrói com teus parágrafos, me faz verso e me deixa ser tuas palavras, daqui até o fim de nosso texto, seja letra que esta é minha letra zero.