"Existem Venenos Tão sutis que, para conhecer-lhes as propriedades, temos que nos expor ás doenças que causam."

Oscar Wild.

03 janeiro 2015

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Dez segundos separavam ela de quem ela queria ser; Dez segundos foi tudo o que ela precisou pra jogar fora um eu construído em.. quantos segundos? Muito mais do que dez com certeza;

Dez segundos... o tempo é a liberdade mais aprisionante que já existiu.



Durante trezentos e sessenta e cinco dias ela viveu a vida que lhe cabia do jeito que conseguia, não contava os segundos, achava não ter tempo pra isso, cansou de contar copos, perdia a conta eventualmente em algum lugar, nunca foi de contar amores e se orgulhava por não os ter tido, contava corpos como se fossem dores expostas em sua prateleira pessoal, era uma colecionadora de frustrações causadas por si mesma e durante todos esses dias ela ignorava a existência de um vazio que nem todos os ninguéns que ela insistia em colecionar conseguiam preencher, ela mudou tanto durante todos os segundos desses dias que nos últimos dez mal foi capaz de se reconhecer, perto do fim se você chegasse de mansinho era capaz de ver ela quase nova presa nos segundos que ainda a seguravam naqueles dias, esperando o tempo passar pra se libertar de quem não queria mais ser, e bom... no fim não somos todos assim? Esperando o começo da semana pra voltar na academia ou começar uma dieta, postergando tudo aos começos pra não termos que ditar um fim nós mesmos, adiamos nossos começos ao bel prazer do tempo pelo medo e pela preguiça, adiamos pelo costume e porque tudo parece mais certo aos começos, quando foi que você de fato teve um novo começo?

Nos últimos dez segundos daqueles trezentos e sessenta e cinco dias ela chorou e das lágrimas e do riso, do caos e do champanhe derramado, dos abraços e do carinho ela ressurgiu finalmente livre, o tempo havia sido bom, os últimos dez segundos haviam passado e ela poderia mudar, não precisaria mais adiar a vida, o começo tava bem ali, dançou e brincou pois renasceu verso e prosa da rosa que ninguém viu.

Nos primeiros segundos ela agradeceu ao tempo por ser tão cruel e ao mesmo tempo tão bonito, agradeceu a liberdade de recomeçar.



Começo.
Um.
Dois.
Três.
Quatro.
Cinco.
Seis.
Sete.
Oito.
Nove.
Dez.
Onze.
Doze.
Treze...