"Existem Venenos Tão sutis que, para conhecer-lhes as propriedades, temos que nos expor ás doenças que causam."

Oscar Wild.

03 novembro 2010

Umbral.




Refiz todos meus passos, andava de costas em alamedas povoadas por fantasmas que habitavam o mesmo espaço, porem não o mesmo tempo, cada um englobado em sua própria esfera atemporal corria e amassava com seus pés descalços tantas historias de amor que por lá já se fixaram e apodreceram caindo por terra e se emudecendo nos olhos de seus donos que lhe abandonavam as pisadelas daqueles que agora nada sentiam pelos amores fugazes deixados a esmo nas calçadas.

Cada músculo de meu corpo impulsionava toda minha massa no sentindo contrario ao convencional, repensava cada faísca de sanidade que havia ocorrido nas inúmeras sinapses de meu cérebro, respirava o gás carbônico de um dia fora oxigênio em meus pulmões, dizia as palavras de trás para frente, revia o mesmo filme de sempre rebobinado por meus olhos.

Reentrei no ventre de minha mãe, voltei a ser aquele pobre amontoado de células inúteis, me tornei nada.

Tornei-me enfim um dos fantasmas que sobreviviam à custa de suas azucrinações aos amores mortos, andando novamente no sentido convencional, vi aqueles a quem amei um dia, vi os moldes de onde minha antiga forma tinha sido moldada, ambos passaram pela sombra que me tornara, em seus sentidos opostos, seus olhares sequer se cruzaram, jamais seriam um modelo pré- fabricado de família que um dia cairia em ruínas deixando como réstia algumas magoas e alguns milhares de contrastes, os corações jamais bateriam em uníssono entregando uma felicidade que um dia existira lá, escondida atrás de dividas e falsas ascensões sociais.

Sorri ao formatar que cada um seguiria rumos completamente diferentes dos quais conhecia, ela talvez terminasse a faculdade e se tornasse enfim psicóloga, casaria com um homem simples, de sonhos pequenos, pois necessitava de amor, cada gesto de seu ser entregava esse vicio que corrompia sua alma, talvez continuasse a fumar e morresse aos 65 anos, após ter dois filhos e alguns netos que veria correndo no jardim nos domingos a tarde.

Ele jamais se casaria sempre fora prepotente desde os tempos de menino em que se viu responsável por uma família que nunca fora sua desde os tempos em que vira seu pai dando as costas aquela frágil concepção de felicidade que ele construía com sua mentalidade de menino, a que conhecia e parecia mais lógica como única nos seus cinco anos, nunca teria um décimo do que teve ao lado dela, mas perseguiria a vida toda o sucesso, como único objetivo, único sonho, morreria com uma idade mais avançada, não bebia em demasiado, e também raramente fumava, não gozava muito dos prazeres da vida, porem os cansaços do trabalho acabariam a lhe tornar senil.

Enfim o sorriso se apagou e continuei minha caminhada infinita, mas não sem antes olhar para baixo e ver na lama azeda que se infiltrava sobre os meus pés aquele amor tão frágil que jamais existiria que jamais se tornaria ressentimento e cairia na mesma lama, afinal inevitavelmente o destino de todos os amores era aquele chão remoído de tortuosas juras eternas e casamentos inférteis de ternura.

Suspirei fundo e continuei pelos caminhos onde todos sabiam que um destino tão certeiro quando a morte da matéria era o falecimento do amor.