"Existem Venenos Tão sutis que, para conhecer-lhes as propriedades, temos que nos expor ás doenças que causam."

Oscar Wild.

13 dezembro 2010

Duality


Ele abriu os olhos, se sentia estranhamente vazio, não sabia mais discursar sobre o amor, muito menos sobre a dor, era apenas mais um rabiscando palavras aleatórias em um papel qualquer que no fim do dia estaria entre toneladas de lixo em meio a algum devaneio perdido.

Ela abriu os olhos, se sentia estranha, uma mistura de dor com uma pontada de decepção, não sabia mais discursar sobre a dor que sentia ou que às vezes se fazia sentir, muito menos sobre o amor, digitava algumas palavras no bloco de notas do computador para depois apagar e continuar a pensar sobre como perdera todo talento que já teve um dia.

Ele inventava historias sobre si mesmo para apagar o vazio que insistia em ficar.

Ela apagava as historias que inventara para se sentir um pouco melhor com a fria realidade.

Ele estancou e permaneceu no mesmo degrau.

Ela despencava por muros que foram construídos por suas próprias mãos.

Ele se trancava.

Ela procurava a chave.

Ele se calava.

Ela sorvia do silencio com um sorriso letal nos lábios secos.

Ele continuava.

Ela reabria os olhos se vendo como ele.

Ele fechava os olhos e se sentia como ela.

Ela se contorcia em troca de poucas migalhas.

Ele as atirava com os punhos fechados criando rajadas de falsas sombras sobre o piso frio e sujo.

Ela corria em vão.

Ele propunha os obstáculos.
 
Ela se feria.

Ele lambia as feridas.

Ela se cansou.

Ele voltou a brincar.

Ela enfim desistiu enquanto ele a forçava a jogar.

Ele sorria ao ver a falsa esperança.

Ela fingia para fazê-lo sorrir.

Ele morria em meio ao fogo.

Ela alimentava seus pesadelos.

Ambos viviam sem saber nem por um segundo que eram na verdade a mesma pessoa.